sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Três palavras: Beleza e Essência

No início deste ano algo improvável ocorreu e a sorte parecia bater-me à porta sem eu sequer estar a procura-la. Não havia escolha, tinha mesmo que aproveitar a oportunidade e por isso arrisquei, mas precisava primeiro de ultrapassar alguns medos.

Uma amiga ajudou-me a ultrapassar esse medo. Quis ela saber três acontecimentos na minha vida que associasse a felicidade e/ou sucesso. Com dificuldade, lá os encontrei nas minhas memórias. De seguida, quis ela três palavras que sintetizassem cada um dos acontecimentos. Lembro-me que a primeira foi Beleza. Mas foi ao pronunciar uma outra que imediatamente me surpreendi.

Essência - disse eu! Foi essa a palavra.

Não percebi como tinha surgido tal escolha, apenas desconfiei que teria sido influenciado pelo marxismo, onde Essência é um conceito fundamental na dialéctica que perfaz com (a aparência dos) Fenómeno(s). Mas teria relação com a Beleza?!

Desde este encontro com esta amiga que evito pensar sobre a relação que poderá existir entre Beleza e Essência. Não sei se será um medo no meu sub-consciente a travar tal descoberta, contudo desconfio cada vez mais que para fazer tal abordagem terei de largar a minha propensão para analisar materialisticamente o mundo e entregar-me com reduzido pudor à metafísica. Seja o que Deus quiser! - agora estou a ser irónico.

Onde estarão algumas das pistas para a busca? Sem me alongar, de momento, se nós procurarmos e estudarmos à essência as formas de uma flor, do corpo humano, da música, encontraremos padrões - como a proporção de phi - naquilo que consideramos como Belo. O facto de que é possível fazer-se na estética esta modelação matemática às formas é no mínimo curioso.

O êxtase que sentiria Nabokov ao observar borboletas é com certeza semelhante à minha quando vejo um velho corcunda a saltar à corda. Foi talvez quando pensava em borboletas que falei à minha amiga as palavras Beleza e Essência. Ou talvez não, imaginava antes uma corda a ser manipulada por um corcunda saltitão. Na verdade escondo-vos algo, e minto-vos, mas há coisas que se calhar nunca se devem contar a ninguém, e quando penso neste assunto lembro-me frequentemente que das coisas mais belas que observei não foi um corcunda, mas foi... não vou dizer o nome dela.

Um amigo, há pouco tempo, confessava que a felicidade lhe estava - e salvo erro a beleza também - associada aos filhos. Eram eles a sua principal fonte de alegria e sentido. Teria ele razão na sua confissão ou seria apenas um êxtase provocado por bactérias no cérebro de um sushi marado?

São imensas as questões. Haverá relação entre felicidade, beleza, essência e sentido? Penso que só há entre algumas delas, mas escreverei noutra altura sobre isso. Não foi ainda nesta divagação que as respostas me surgiram, espero que o leitor ao lê-la tenha melhor sorte.

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